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Cães-robô estão patrulhando a fronteira dos EUA com o México

Uma foto do Departamento de Segurança Interna mostra um cão-robô construído pela Ghost Robotics operando ao lado de ATVs no sudoeste dos EUA.
Tempo de leitura: 5 minutos
Cão robô patrulhando fronteira EUA-México

As fotos  parecem cenas de um filme de ficção científica: cães robôs patrulhando a fronteira EUA-México e escalando terrenos acidentados  em  busca de imigrantes e contrabando de drogas.

Mas essas imagens são reais, está acontecendo agora, enquanto você lê essa matéria

O Departamento de  Segurança Interna dos EUA divulgou as imagens recentemente  porque quer revelar detalhes sobre como está testando a tecnologia.

As autoridades elogiaram o potencial dos robôs como um "multiplicador de força"  que  aumentaria  a segurança dos agentes de patrulha na fronteira, reduzindo sua exposição a risco de vida. 

Uma postagem divulgando os testes no site da Diretoria de Ciência e Tecnologia do DHS observa que algum dia os cães robôs, oficialmente  chamados de  Veículos Automatizados de Vigilância Terrestre, podem se tornar "um agente do policiamento da fronteira ou os melhores amigos dos agentes de patrulha".

"Não se surpreenda", diz a postagem, "se  no  futuro virmos robôs ' caminhando lado a lado com o pessoal do policiamento da fronteira."

Mas  os principais pontos  sobre os testes pareceram pegar algumas pessoas  de surpresa, provocando uma enxurrada de reações nas redes sociais comparando  as fotos  com cenas distópicas de programas de ficção científica como “Black  Mirror”.   

"Isso parece mais com um tapa na cara da sociedade", diz Vicki Gaubeca, diretora da Southern Border Communities Coalition, um grupo que critica a iniciativa dizendo que é um desperdício "alarmante e ultrajante" do dinheiro do contribuinte que seria melhor investido no desenvolvimento de sistemas para humanizar o trabalho dos agentes da Patrulha de Fronteira.

Gaubeca se descreve como uma entusiasta de tecnologia e também dos cachorros (ela tem cinco). Mas ela diz que não vê nada de fofo  nas descrições recentes do governo sobre cães-robôs dando uma "pata amiga" para as pessoas. Durante anos, sua organização alertou que a militarização ao longo da fronteira coloca comunidades e imigrantes  em perigo. E isto, diz ela,  é simplesmente  mais um  exemplo preocupante. “Existem outras tecnologias  que eles já estão usando e que queremos reduzir,  e ainda assim eles estão implantando outras tecnologias de vigilância que são simplesmente assustadoras”, diz Gaubeca. "Isso certamente  parece  algo construído para demonstrar muita agressividade,  assim como nas  zonas de guerra."


A Ghost Robotics, a empresa com sede no estado da Filadélfia que cria  os robôs que as equipes do DHS  estão  testando na fronteira, diz que não há nada a temer.



"Estamos focados em fazer  a  coisa certa. Queremos  tentar fazer  a coisa certa  para a segurança nacional e para o nosso país", disse o CEO Jiren Parikh.


Um porta-voz do Departamento de  Segurança Interna  disse que o projeto continua na fase de pesquisa e desenvolvimento, sem previsão de implantação dos cães robôs. Mas mesmo assim, há  muitos  problemas sérios que essa tecnologia está trazendo à tona.

Há uma grande diferença entre  fantasia  e realidade

Às vezes eles parecem até fofos mas, às vezes são mais assustadores, os cães robôs  cativam  a imaginação dos americanos  há muitos anos, muito antes dos vídeos dos robôs de quatro patas da Boston Dynamics dançando começarem a se tornar virais nas redes sociais.

Eles têm sido símbolos de inovação futurista - e prenúncios sinistros do que poderia acontecer se a tecnologia caísse nas mãos erradas.

Em 1940, Westinghouse – a mesma empresa que investiu nos experimentos de Nicola Tesla na virada do século XIX – exibiu um cão de pele de alumínio numa Feira Mundial chamado Sparko e que podia  andar, latir e sentar. Na década de 1960, a família do desenho animado  futurista dos Jetsons adotou um cachorro eletrônico movido a energia nuclear, Lectronimo, antes de decidir doá-lo ao governo.


Cães mecânicos ameaçadores caçaram fugitivos no romance distópico de 1953 de Ray Bradbury, "Fahrenheit 451". Em 2017, um episódio de "Black Mirror" apresentou cães de guarda robôs aterrorizantes que perseguem e matam pessoas.


Mas Parikh, CEO da Ghost Robotics, diz que há uma  grande lacuna entre a forma como os cães robôs são retratados na  fantasia  – e às vezes mostrados nas redes sociais.


"É apenas como um computador alimentado a bateria que pode se mover sobre as quatro patas e que fica inativo depois de quatro horas de trabalho. Não  há  como  eles apreenderem  nada sozinhos", diz ele. E, ele observa, "é um robô que é controlado remotamente por  alguém numa mesa".

O cão robô Vision60 da Ghost Robotics ao longo da fronteira EUA-México.

Mas ainda assim, Parikh diz que os robôs de sua empresa oferecem  vários  benefícios nas zonas fronteiriças. A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA está patrulhando  uma região enorme, observa ele, muitas vezes sob condições adversas. "Esta pode ser uma ótima maneira  de agregar valor à tecnologia", diz ele, "preenchendo  as  lacunas". 

Durante os testes dos robôs,  diferentes tipos de câmeras e sensores foram montados neles, transmitindo dados em tempo real para os humanos que os operavam via notebooks ou controle remoto portátil, disse o DHS

As equipes os testaram primeiro no asfalto, grama e regiões acidentadas na cidade de Lorton, na Virgínia, depois os fizeram testes em cenários mais realistas como a cidade de El Paso, no Texas, fronteira com cidade mexicana de Juarez, onde subiram colinas, desceram ravinas e andaram sobre rochas. 

Em El Paso testando atribuições de serviço simuladas e inspeções

E os exercícios também incluíram manobras em espaços apertados, altas temperaturas e condições de baixo oxigênio, “situações que são especialmente perigosas para agentes e oficiais das patrulhas de fronteiras”, disse o DHS.

A gerente do programa de Ciência e Tecnologia do DHS, Brenda Long, descreve os cães como uma "ótima ajuda", dada a ampla missão do CBP e também os  muitos riscos que seu pessoal enfrenta no dia a dia.


"A fronteira sul  costuma ser  um lugar inóspito para homens e animais,  e  é exatamente  por isso que uma máquina pode se destacar lá", disse.


Representantes da fronteira dizem que já se sentiam cercados

Representantes da comunidade na fronteira há muito acusam o governo  dos EUA de militarizar a região e usar vigilância excessiva. E o anúncio do teste do cão robô não ajuda em nada, Gaubeca diz que "as comunidades fronteiriças já se sentem supervigiadas, supermilitarizadas e, no entanto, o governo implanta essa nova tecnologia e se gabam dela em um momento em que as famílias estão preocupadas com  uma maneira de  colocar comida em suas mesas ", diz ela. "O governo desconsidera as comunidades da fronteira como uma comunidade de seres humanos. É como se eles não reconhecessem que somos  pessoas de ambos os lados." Para Gaubeca, tudo se resume  a como os recursos são alocados.

"É um uso de tecnologia  que cria  mais problemas e não resolve o que vemos como sendo de fato o problema, que é como podemos  responsabilizar esta agência  e como podemos  criar um sistema mais humanitário e eficiente na fronteira?" ela diz.  "Eles deveriam gastar  o dinheiro  em algo  mais  humanitário e eficaz,  em vez de  intimidar as pessoas ."

O governo Biden disse que quer formar um sistema mais eficiente, humano e ordenado na fronteira, mas "isso contradiz completamente esse sentimento", diz ela.
 
A Ghost Robotics fez parceria com o  Departamento de Defesa dos Estados Unidos no passado. E Parikh observou que tinha acabado de falar ao telefone com o Ministério da Defesa da Ucrânia. 

Mas ele disse que os cães robôs na fronteira dos EUA não fazem  parte de um esforço militar - e qualquer sugestão de que  este seria o objetivo  é bobagem.

Esta imagem divulgada pela Força Aérea dos EUA em 2020 mostra a sargento da Força Aérea Carmen Pontello apresentando Hammer, um cão pastor alemão, ao Ghost Robotics Vision 60 na Base Aérea de Scott, no estado de Illinois.


Militar da Força Aérea apresentando  um cachorro para o Ghost Robotics Vision 60 na Scott Air Force Base em Illinois


"É apenas outro portador de sensor. Está realmente à distância... É realmente para detectar o ambiente.  Não está  realmente interagindo com as pessoas. Não é para isso que foi feito.  Não há armas nele", diz ele. “Não está sendo militarizado para operar na fronteira do país.  Não está  parando as pessoas, dizendo 'mãos ao alto'. Ele não pode  fazer isso.  É um  pequeno robô, só isso."

A tecnologia, diz ele,  destina-se a manter  as pessoas seguras. Mas poderia ser usada contra os imigrantes na fronteira?

"Isso nunca aconteceu", diz Parikh. "Não é nem mesmo  um caso de uso no exterior que já foi discutido." As pessoas não conseguem nem concordar com “uma parede física básica feita de  concreto e metal”, diz ele. "Nós realmente  achamos que estamos  criando robôs para  depois começar a armar esses mesmo robôs?  Isso é pura tolice. Eu também não  acho que isso esteja dentro do DNA da América", diz Parikh." Estamos em um país que possui  inúmeras  regras e exigências regulatórias."


Parikh diz que a Ghost Robotics trabalha regularmente com as autoridades da mesma forma  que agências governamentais. "Isso não é um negócio nas sombras.... temos que fazer tudo através de processos e regras legais. Tudo o que fazemos, tudo, é questionado. Todo mundo tem a possibilidade  de nos questionar para saber o que estamos fazendo."  

Quando Greg Nojeim ouviu falar sobre os cães robôs, sua mente estava  repleta de  perguntas. A principal delas: Alguém estudou seu impacto na privacidade das pessoas? "A fronteira tornou-se uma  região de testes para nova e intrusiva tecnologia de vigilância", diz Nojeim, co-diretor do  projeto de proteção  e vigilância para Democracia e Tecnologia.

E em muitos casos, diz ele, a lei não acompanhou a tecnologia que estava em desenvolvimento. A plataforma simplesmente passou a ser aceita, e novos usos  foram inseridos. É inevitável. E eu não acho que estamos prontos como sociedade  para lidar com isso, e não sabemos se esse uso é permitido,  e isso muitas vezes não é. Eu não acho que as leis sejam  capazes de dizer se isso pode ser permitido. ... Estou preocupado que  a  tecnologia esteja entrando nas nossas vidas antes mesmo  das leis que devem  regulamentar isso existam."  Ele diz que quando isso acontece, os direitos  civis são relegados a um segundo plano.  
 
Um editorial do jornal New York Times observou que as tecnologias de vigilância que são testadas na fronteira geralmente chegam a outras partes do país antes que as pessoas se deem conta. A tecnologia de reconhecimento facial é um exemplo recente, diz Nojeim. “Essa tecnologia agora se espalhou para alguns departamentos de polícia,  e outras pessoas  estão descobrindo que ela não identifica todas as pessoas da mesma forma, as pessoas de cor estão sendo identificadas erroneamente em taxas alarmantes”, diz ele. Se os cães-robôs começarem a patrulhar a fronteira, diz Nojeim, é apenas uma questão  de tempo  antes  que eles  apareçam em nossos bairros mais pobres também.

 

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Author: MundoZ! Tecnologia
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